«Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.» Alguém perde a visão sem qualquer tipo de explicação. Os casos sucedem-se e a epidemia torna-se incontrolável. Os cegos recentes são colocados em cativeiro, onde são submetidos às piores crueldades, também por outros cegos. Não é uma cegueira convencional, mas uma cegueira branca.
Assistir a «Ensaio sobre a Cegueira» é ver mais do que o imediato nos oferece à partida. Para além da crítica subjacente à sociedade humana, que é delineada através da metáfora da cegueira, a obra de Fernando Meirelles aborda o preconceito humano em todo o seu esplendor.
Uma sociedade que cega. O desespero, a clausura, o preconceito. Uma cegueira branca e de espírito, como defendeu José Saramago em algumas ocasiões. Assiste-se sobretudo ao processo em que o ser humano atinge o limite do perverso e do cruel.
Meirelles procurou fazer um filme realista, à imagem das suas obras de marca: «Cidade de Deus» e «O Fiel Jardineiro». Nesse sentido, o realizador usou diversas técnicas de modo a aproximar o espectador da principal mensagem vinculada pela obra. O branco e os planos desfocados são recursos recorrentes no filme, procurando envolver ainda mais o espectador. A fotografia esteve a cargo de César Charlone, que conseguiu estabelecer um padrão quase sempre coerente e bem conseguido.
A obra de José Saramago era considerada extremamente complexa para adaptar para o grande ecrã, mas a obra do realizador brasileiro vem provar exactamente o contrário. A adaptação certamente não envergonha o prémio Nobel português e constituiu-se como uma obra com força própria.
Este é um filme de imagens fortes, o que não deixa de ser bem representativo da força da mensagem. O aspecto desolador das camaratas onde os cegos estavam confinados, as ruas ilustradas com uma caracterização «deliciosa», são pontos em que Meirelles sabe destacar-se.
Por outro lado, a obra possui outra mensagem subliminar. Quem vê pode ajudar os que não vêem e é essa ideia que o autor explora, nomeadamente com a personagem interpreta por Julianne Moore, que serve de guia física e moral no filme.
O filme conta ainda com as prestações de Danny Glover, Mark Ruffalo, Gael Garcia Bernal, Alice Braga e Sandra Oh.
«Ensaio sobre a Cegueira» foi exibido pela primeira vez em Portugal esta quarta-feira, no Fórum Lisboa, nas comemorações do Dia Mundial da Bengala Branca, promovido pela ACAPO. A sessão contou com a presença de Bárbara Guimarães e da Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz.
A ACAPO referiu que não partilha da mesma opinião da Federação Nacional dos Cegos dos Estados Unidos, que defendiam que o filme transmitia a ideia de que a cegueira tinha transformado as pessoas em monstros. A ACAPO sustenta que o livro mostra que estamos sempre a um fechar de olhos de nos tornarmos desumanos.
O filme tem estreia marcada em Portugal para o dia 13 de Novembro.
MORAIS, Miguel (16/10/2008 ), in LERPARAVER, url:http://www.lerparaver.com/node/8075, (consultado em 25/10/2008)
Assistir a «Ensaio sobre a Cegueira» é ver mais do que o imediato nos oferece à partida. Para além da crítica subjacente à sociedade humana, que é delineada através da metáfora da cegueira, a obra de Fernando Meirelles aborda o preconceito humano em todo o seu esplendor.
Uma sociedade que cega. O desespero, a clausura, o preconceito. Uma cegueira branca e de espírito, como defendeu José Saramago em algumas ocasiões. Assiste-se sobretudo ao processo em que o ser humano atinge o limite do perverso e do cruel.
Meirelles procurou fazer um filme realista, à imagem das suas obras de marca: «Cidade de Deus» e «O Fiel Jardineiro». Nesse sentido, o realizador usou diversas técnicas de modo a aproximar o espectador da principal mensagem vinculada pela obra. O branco e os planos desfocados são recursos recorrentes no filme, procurando envolver ainda mais o espectador. A fotografia esteve a cargo de César Charlone, que conseguiu estabelecer um padrão quase sempre coerente e bem conseguido.
A obra de José Saramago era considerada extremamente complexa para adaptar para o grande ecrã, mas a obra do realizador brasileiro vem provar exactamente o contrário. A adaptação certamente não envergonha o prémio Nobel português e constituiu-se como uma obra com força própria.
Este é um filme de imagens fortes, o que não deixa de ser bem representativo da força da mensagem. O aspecto desolador das camaratas onde os cegos estavam confinados, as ruas ilustradas com uma caracterização «deliciosa», são pontos em que Meirelles sabe destacar-se.
Por outro lado, a obra possui outra mensagem subliminar. Quem vê pode ajudar os que não vêem e é essa ideia que o autor explora, nomeadamente com a personagem interpreta por Julianne Moore, que serve de guia física e moral no filme.
O filme conta ainda com as prestações de Danny Glover, Mark Ruffalo, Gael Garcia Bernal, Alice Braga e Sandra Oh.
«Ensaio sobre a Cegueira» foi exibido pela primeira vez em Portugal esta quarta-feira, no Fórum Lisboa, nas comemorações do Dia Mundial da Bengala Branca, promovido pela ACAPO. A sessão contou com a presença de Bárbara Guimarães e da Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz.
A ACAPO referiu que não partilha da mesma opinião da Federação Nacional dos Cegos dos Estados Unidos, que defendiam que o filme transmitia a ideia de que a cegueira tinha transformado as pessoas em monstros. A ACAPO sustenta que o livro mostra que estamos sempre a um fechar de olhos de nos tornarmos desumanos.
O filme tem estreia marcada em Portugal para o dia 13 de Novembro.

